- Bom dia, senhor. Em que posso ser útil?
- Preciso de um quarto. E de um lugar nos estábulos para o Tornado.
- Zand se dirige ao senhor do balcão de maneira simples e direta,
tentando evitar ser reconhecido e ao mesmo tempo tentando não parecer
que não quer ser reconhecido.
- Pois não, senhor. Tenho um quarto. Deixe-me pegar a chave.
Zand olha à sua volta e vê o lugar da mesma forma que era há alguns
anos. O mesmo balcão com marcas, as mesmas cadeiras antigas, até o
tapete redondo é o mesmo. Esse tipo de lugar não muda. Nem as pessoas,
que apenas ficam mais velhas com o tempo. Isso traz um certo conforto
ao seu espírito.
- Aqui está, Zand. - Fala o homem enquanto lhe entrega a chave.
- Wrivee, meu velho... Ainda se lembra de mim, não?
- E como poderia esquecer? Quantas vezes veio a meu estabelecimento!
E quantas vezes ficamos na porta, entretidos por suas canções!
- Pois é, bons tempos aqueles, não?
- Bons tempos...
- Gosta do amigo Zand, não? Então posso te pedir um favor?
- Claro que sim, no que eu puder ajudar.
- Por favor, mantenha minha estadia em Diwed em segredo.
- Mas por quê?
- Estou em uma missão importante e sigilosa. Totalmente sigilosa.
- E o que houve com o velho Zand alegre? Está tão... diferente!
- É, meu velho Wrivee... Ser bardo é teimar com o mundo. Buscar
alegria enquanto todos estão entretidos com suas próprias misérias,
tentar trazer alegria, ensinar e mostrar como as coisas realmente são.
...Mas isso um dia cansa.
- Não entendo.
- É inevitável, é o que posso dizer. Toda estrela brilha, mas se
apaga um dia, quando morre. Mas alguns se apagam antes de morrerem. Eu
sei, é confuso, meu amigo, mas é assim que as coisas são. Terei um
longo dia, e ninguém pode me reconhecer por aqui. Pode fazer esse
grande favor para um velho amigo?
- Tudo bem. - Responde o senhor, um tanto decepcionado, pode-se
notar. Pelo jeito ele não via a hora de espalhar pra todo mundo que o
alegre bardo estava de volta depois de tantos anos.
- Obrigado, meu amigo. Agora vou para o meu quarto descansar um pouco.
- Tudo bem.
Zand se dirige às escadas e sobe em busca de um lugar tranqüilo para colocar as idéias em ordem.
O quarto não é tão confortável assim, mas certamente é dos melhores da
hospedaria. Não há problema nessa falta de conforto. Se Zand quisesse
mesmo um lugar confortável, teria ido para a Hospedaria Raposa da Lua,
parada de aventureiros mais nobres. Não, Zand sempre veio ao Dragão do
Mar. Justamente por se sentir mais à vontade nos locais simples do que
em outros nobres, cheios de regras.
A cadeira está ali, próxima à janela, com uma discreta escrivaninha.
Ao lado da janela, um pequeno guarda-roupas. À porta, um cabide. Não há
banheiro, não há banheira: os dois são de uso coletivo, como em todo
lugar que não ofereça regalias.
Zand toma a cadeira e se posiciona à janela, colocando a lista com
os ítens roubados sobre a escrivaninha, devidamente apoiada com pesos
para que não saia voando pela janela. De lá, vê a rua e o movimento
começando a se formar no início desse dia.
"Wrivee me reconheceu. Isso é um problema. Como posso conseguir
caminhar livremente sem ser reconhecido quando o primeiro antigo amigo
me reconhece? É, Zand, acho que você vai ter que puxar alguns truques
artísticos pela memória."
Zand fecha a cortina, fazendo do quarto um ambiente quase sombrio,
mas ainda suficientemente iluminado. A cortina é antiga e tem suas
próprias cicatrizes.
"Fato número um: estou mais forte que antes. Eu sempre usava cabelo
longo e gorro ou capuz. Sem barba... O que eu posso fazer... Bom, acho
que vou ter que pedir um segundo favor ao velho Wrivee..."
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