O senhor Drell da loja de jóias deixa os anéis da vitrine em seu local natural e logo volta até Nazavo trazendo um pequeno baú e sentando novamente no sofá, diante do olhar atento da senhora Drell.
- O que você quer é raridade. Neste quesito, os melhores anéis que tenho são estes.
E abre o baú, mostrando seis anéis separados por divisórias. Do monte de algodão do primeiro compartimento, retira o primeiro anel, que a princípio parece ser apenas um pedaço de algodão.
- Este anel foi feito pelo conde Idrua, que o ofereceu em pedido de casamento de Cepya, nobre de Wiogee. Geração após geração, o anel foi passado em uma tradição de 32 casamentos felizes. No último da dinastia, foram mortos em lua de mel no Vale do Lobo Branco por uma avalanche. Fatalidades que sempre podem acontecer, mas tenho certeza de que se amariam para sempre...
Zand fita o anel. Parecem nuvens sólidas, e ainda se movem ao que parece. Tem um efeito psicodélico.
- Vejo que te agradou!
- Parece interessante. E os outros?
- Bom, tenho esse que pertenceu ao Eglov, que a usava enquanto tentava tomar por golpe o reino de Surdi para fins pouco nobres.
E tira do compartimento cheio de algo parecido com fuligem um anel de ônix, ou algo assim. Um losango metálico perfeito abraça o anel com um brilho entre o ferro e o grafite. Mas nada disso interessa agora que os olhos de Zand encontram o conteúdo do quarto compartimento e, em admiração, estende os dedos rumo a ele.
- Vejo que encontrou o que procurava! - o senhor Drell fala, animado, enquanto deixa o cliente tocar o anel e analisá-lo. - Não é tão sofisticado quanto esses que mostrei, mas esse anel tem sangue azul. Ele pertenceu à rainha Kreez.
Sim, claro que pertenceu! Zand sabe bem disso, por isso sua admiração. Seu plano assim irá melhor do que planejara.
De fato, não há muita coisa chamativa no anel. É uma aliança de ouro quase normal, não fosse o fato de o ouro ter sido roxeado por processos mágicos.
- Nazavo quer este aqui.
- É uma ótima escolha, senhor. Mas é bem caro, o senhor tem conta no banco da cidade?
- O quê?! Acha que Nazavo não tem dinheiro bastante?
- Não, senhor, é que tanto dinheiro não é transportável facilmente em moedas de ouro...
- Hmmm... Nazavo paga agora. Em pérolas.
E tira a bolsa achatada cheia de pérolas.
Idéia da Knova, de outros tempos. Pérolas são bem mais leves e fáceis de transportar. E valem bem mais que moedas de ouro. Que bom que pérola é o tipo de coisa que nunca falta no covil de Knova...
O segurança mal encarado olha para toda a sala onde se encontra, próximo à porta de entrada. Porta para a qual Zand se dirige, em seu disfarce de Nazavo. Porta que se abre quando ele se aproxima. Abre-se para a passagem de uma jovem. De cabelos curtos e escuros, em algum tom entre o ruivo e o castanho, de andar altivo e firme, sugerindo não mais que vinte e dois anos, talvez mesmo muito menos que isso. Pouco se percebe do corpo sob o manto vermelho. Vermelho escuro, de um escuro nobre, quase real. Mas a Zand o que atrai é o olhar, a um cumprimento mútuo de "Bom dia", pouco antes de Zand deixar o estabelecimento.
O significado das mensagens trocadas nesse curto momento é definitivo para ambos. Há muita audácia, firmeza e atenção nos olhos dela. Mais do que em qualquer mulher ou homem. Ao menos os que se conhece por aí. Isso intriga Zand, que alcança agora a rua, saindo da loja.
Ele caminha em seu disfarce para o outro lado da cidade. É, para manter melhor sua identidade em segredo, vai ter que ir mesmo à Hospedaria Raposa da Lua, lugar de gente esnobe...
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