Escarlate #14 - A Lua na Raposa
- Peixe é feliz?
- Claro que é, Nazavo? Você já viu um peixe triste?
- Nazavo não sabe. Difícil medir alegria de peixes...
- Porque eles são sempre felizes! Se tiverem sede, é só abrir a boca, se quiserem comer, tem comida em todo canto. E podem ir pra onde quiserem.
- Rubi queria ter nascido peixe?
- Não sei... Às vezes penso que a vida seria melhor desse jeito, sabe?
Nazavo e Rubi jantam naquele bar reservado. Um jovem loiro de barba e de ar ligeiramente neurótico se senta ao balcão mais à frente e começa a beber. Pelo menos naquela noite, no período em que os dois estiveram ali, esta foi a única pessoa a aparecer além do barman careca.
- Nazavo vem muito aqui?
- Não. Nazavo veio pela primeira vez.
- Então não conhece a cobertura do hotel, não é?
- Nazavo não conhece.
- Pois Rubi vai mostrar pra Nazavo! Vamos?
Os dois se levantam e saem do bar.
- Não espere muito de lá, mas vale a pena ir ver.
- Diwed não é assim tão ruim, afinal de contas. Não é tão feia quanto parece a princípio... - Rubi fala, enquanto aprecia a paisagem.
Aqueles prédios vistos de cima à luz da Lua têm uma certa beleza. Não é realmente uma das melhores paisagens que se possa imaginar, mas não deixa de ser uma paisagem bonita.
- Aqui até que é um lugar bacana. Ainda mais quando a gente está com uma boa companhia.
A cobertura da Raposa da Lua não é exatamente confortável. É só uma parte do prédio que eles têm à disposição. Talvez o restante da cobertura seja para uso exclusivo da tal suíte imperial.
Nazavo e Rubi contemplam a paisagem em silêncio. Dedos suaves deslizam pelos braços de Nazavo. A mão esquerda de Rubi segura gentilmente o pulso direito de Nazavo, erguendo seu braço para Rubi passar por baixo, aproximando o corpo do corpo dele, enquanto continua conduzindo o braço segurado a envolver seu próprio corpo.
Desliza os dedos da mão direita pelo rosto de Nazavo, encarando-o com aqueles olhos negros e vivos. Beijam-se.
Zand abre os olhos. No mesmo quarto da Raposa da Lua. Ele se lembra da frieza do medalhão de prata encostando em seu corpo, dos beijos, do brilho dos olhos de Rubi à luz da Lua, do vestido preto, do calor de seu corpo... Olha de lado e ela não está mais ali, mas a cama está revirada. A lembrança de como foi a noite é suficientemente nítida: não precisa de mais nada para ter certeza de que tudo aquilo de que se lembra realmente aconteceu.
“Rubi... O que é que eu estou fazendo da minha vida? Como me deixei envolver assim? Droga! Não me lembro de ter baixado a guarda antes a esse ponto. Que droga, estou numa missão! Tenho um disfarce a manter e ela é minha principal suspeita até agora! Como é que eu fui fazer isso!?”
Zand vai até o banheiro e se olha no espelho. Por sorte a “tatuagem” continua em seu rosto. A árvore no ombro, porém, se tornou uma mancha quase irreconhecível. Zand se vê ainda em estado de choque. Sorri um pouco, como para não chorar.
“Eu sou mesmo um idiota! Knova bem que disse! Ela tem razão! Meu treinamento de guerreiro deve ter me privado do juízo...”
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