Escarlate #15 - Conselhos de Wrivee
Um homem forte sai do hotel Raposa da Lua. É Zand em seu disfarce de Nazavo. Depois de muito pensar no próximo passo que tomaria, recompôs-se, refez a tatuagem com toda a atenção que pôde dedicar à tarefa e saiu.
Então ele sai pelas ruas de Diwed, tentando ouvir qualquer conversa que escape pelos cantos, mas mal consegue ouvir algo mais que seus próprios pensamentos.
Sem uma consciência que lhe guie, de repente Zand se vê diante da pousada Dragão do Mar. Já que está ali, decide entrar.
- Bom dia! - O senhor Wrivee o recebe alegre. - Está de volta? Vai voltar ao apartamento?
- Não, meu amigo...
- E o que te traz de volta? Precisando de mais uma ajuda minha? O Tornado está bem, estou cuidando bem dele. Se você precisar de qualquer coisa...
- Não, obrigado Wrivee... Na verdade nem sei porque vim parar aqui. Acho que minhas pernas estão acostumadas a esse caminho e como caminhei no vazio, preso em pensamentos, hei-me aqui agora.
- Ora, meu caro... - ele pára um pouco para olhar ao redor e se certificar de que ninguém está ali, então, continua, falando mais baixo. - Zand. Isso não me parece bom. Eu sei bem dos problemas da vida e tenho certeza de que algo te inquieta. Estou tão certo disso como estou certo de estarmos na pousada Dragão do Mar.
- Não vou negar, velho amigo...
- Gostaria de conversar? Desabafar um pouco? Sabe que pode contar comigo... Sou discreto e já guardei muitos segredos seus de outros tempos... É bom desabafar, evita que a gente exploda em alguma tolice.
- Não sei, talvez tenha razão...
- Vamos subir para o seu quarto. Lá você me conta o que te aflige. Não sei se vou poder ajudar, mas vou tentar... Quem sabe arrumo algum conselho bom, mas meus conselhos não estão à sua altura...
- Vamos lá então, Wrivee... E não se preocupe. Não prometo seguir seus conselhos, mas prometo ouví-los. Além do mais, às vezes o timples fato de contar nossos problemas pode esclarecer certas coisas, mesmo que aconteça de não arrumares conselhos. Então vamos?
Zand fantasiado de Nazavo deitado de costas na cama, olhando o teto com as mãos sob a cabeça. Wrivee, o dono do estabelecimento, logo ali na cadeira da escrivaninha, mas bem próximo à cama. A garrafa de rum que compartilham já está na metade, sustentada pelo empresário.
- Então deixa ver se entendi. Você não é mais bardo, é guerreiro. E sua mulher pediu pra cumprir uma missão e nessa missão você se envolveu com uma vadia qualquer... É isso?
- Não exatamente, mas vamos deixar desse jeito pra facilitar a conversa.
- Ora, Zand, burro amarrado também pasta! Já ouviu isso?
- Se você se identifica tanto assim com os burros, tudo bem, mas eu prefiro as águias, livres, que voam e enxergam muito mais além. E mesmo que as asas de uma águia possam levá-la a qualquer lugar do mundo, ao topo da montanha mais alta, além dos mares, ela continua fiel ao seu par.
- Então você terminou como o burro nessa história. Quem é ela, hein? Pode dizer? É a Koubri?
- Não. Ela era lésbica.
- Mas você não saia com ela?
- Tá, ela era meio lésbica...
- ha ha, essa foi boa... Foi a Zulbya-Rei então?
- Também não. Dessa eu nunca mais tive notícias...
- Quem é?! Com quem você casou?
- Não casei.
- Então... - Wrivee se levanta coçando o queixo. - Espere um pouco. Quer dizer que esse drama todo é por um namorico aí e você... Ah, deixa disso...
- As coisas são mais complicadas do que parecem.
- Você me desculpe, Zand, mas voce mesmo é que complica! Aproveite! Depois você volta pra casa e nunca mais vai ver essa sujeita mesmo!
- As coisas não são tão simples, Wrivee, mas obrigado por tentar me aconselhar.
- Vai fazer o que então?
- Sinceramente? Já cuidei da minha vida e do meu destino por tempo demais. Vou deixar a correnteza me levar.
- Parece a melhor saída. Só espero que não levem você para um rochedo. E Zand: nenhuma mulher vale sofrimento, escuta seu velho amigo. Desencana que vai dar tudo certo no final.
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