O tempo é relativo. Esta é uma das grandes verdades da realidade. Zand mal se lembra do dia em que deixou mais uma vez seu mestre Willen. Não se lembra mais de detalhes, de quantos dias passaram, por onde passou ou como finalmente tudo isso aconteceu. Não que tenha sido vítima de algum feitiço, ao menos não que ele saiba. Não se lembra mais de nada porque saíra perdido em pensamentos, porque tudo correu normal e seus sentidos eram chamados com informações sem importância e, por isso fechava-lhes as portas.
Zand só sabe que decidiu arriscar tudo e ver onde terminaria e está agora num quarto de hotel, numa cama com Rubi, que ainda dorme no início dessa manhã. E fica apreciando os traços delicados do rosto da ladina, e seus cabelos ora ruivos, ora negros.
A intenção serve pra alguma coisa? Há quem diga que o que importa é a intenção, mas será que os deuses são assim? Porque Zand foi com intenção de encontrá-la e terminou encontrando muito mais rápido do que esperava, na verdade ela o encontrou antes que ele a ela.
- Oiiii... - Rubi se espreguiça e sorri ao abrir os olhos e ver que estava sendo observada. - Que fofo... Há quanto tempo se acordou e está me olhando?
- Não muito.
- Você sumiu. Pensei que não voltaria mais. Ainda bem que estava errada. - Ela fala carinhosamente, antes de um beijo.
- Vocês não partiram de Cehdiw ainda, por quê?
- Podia dizer que estávamos esperando você voltar, mas não seria verdade para Halkond e Azkelph. Estamos ainda nos preparando para resgatar um artefato poderoso. Claro que você já ouviu falar da Lança de Raphro.
- Claro que sim! Foi forjada há mais de mil anos e usada por grandes guerreiros! Criada pelo lendário Rophla...
- Nunca ouvi falar... Não foi o Rophla que destruiu um monstro que veio do abismo e destruiria o mundo se não fosse por ele?
- Foi um mago poderosíssimo justamente na construção de armas. Raphro foi o guerreiro que se tornou famoso justamente por causa dessa lança. Por isso ela também é chamada por alguns de Roph-Raph, que vem de Rophla e Raphro.
- Bacana! Já ouvi esse nome mas nem imaginava a razão. Viver com um bardo é legal, a gente sempre aprende alguma coisa...
- Pode apostar que sim, mas a gente está junto há quanto tempo? Desde que vim nem faz um dia. Se contarmos desde que nos conhecemos, menos de dois meses...
- Pra mim é o bastante pra saber se gostou ou não de alguém. - Rubi rouba um beijo demorado...
De repente um frio percorre a espinha de Zand, interrompe o beijo e afasta um pouco o rosto de Rubi para poder olhá-la nos olhos.
- Pra que vocês querem essa lança? - A pergunta era meramente retórica. Rubi simplesmente o olha com ternura enquanto aguarda o fim do raciocínio de Zand. - A Raph-Roph não é famosa só por esses dois grandes nomes.
- Não dá pra esconder nada mesmo de você... - Rubi desliza os dedos pelos cabelos de Zand, mantendo o mesmo olhar que mistura admiração e ternura, diante dos olhos assustados de Zand.
- Foi com a Roph-Raph que o mercenário Aidro matou Ekstkailunx, um antigo... Dragão vermelho...
Submeter um novo comentário