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Jasmim #13 - De Osso

Jasmim #13

- Nossa! Sério!? Não acredito!

- É verdade.

- Nossa, Jasmim! Que incrível!

- Por isso não gosto de falar dessas coisas. Parecemos duas madames no salão de beleza fofocando...

- Ah, Jasmim, também não é por aí... Você devia ficar mais animada! Você descobriu muito sobre esses sonhos de uma vez só!

- O que eu descobri? Que quem prepara esses sonhos é um idiota?

- Ah, não fala assim do Gládio, vai...

- Klaitu.

- Sei, mas ele que tem guiado você, né?

Jasmim suspira. Sim, é verdade. E ela só não se livra
da morningstar e esquece tudo isso por querer tanto acabar logo com
isso pra que o mundo volte ao que era antes.

Estão no antiquário, sentadas ao balcão. Anna com uma
blusa laranja e short branco. Com um laço laranja escuro na cabeça e
olhar nas nuvens, pensando nos sonhos de Jasmim. Esta, do contrário,
permanece séria, com sua camisa cinza mostrando dois pinheiros verdes,
um mais claro que o outro. Diante dela, a caixa de madeira. Que lugar
mais seguro acharia para guardar a arma do que perto de si mesma?
Claro, os anéis estão em uma pequena bolsa no bolso de suas calças
jeans.

- Nossa, e a arma? Ele falou alguma coisa da arma?

- Nada muito importante.

- Disse que é mágica, né?

- É, mas os poderes dela ainda estão aparecendo.

- Hmmm... Você vai ter mesmo que usá-la?

- ...

- Digo, lutar com a arma. Iá! Sabe? Será que você...
Não sei, os guerreiros antigamente treinavam muito pra poderem usar um
negócio desses, né? Será que você consegue? Não, quero dizer, sem nunca
ter lutado, né? E...

- Eu já usei.

- Quando?!

- Na universidade, quando visitei o professor. Não contei?

Não, não contara. Pouco tem falado com Anna desde que
a conhece. Somente nos últimos dias é que têm conversado sobre os
sonhos e o que está havendo com o mundo... E Jasmim ganha uma fã.


Já coberta e deitada na cama, Jasmim sorri
discretamente. É inacreditável a empolgação da Anna. Sorri ao se
lembrar de como Anna se levantou e como reagiu ao que Jasmim narrava do
confronto com o homem de fogo. Parecia uma criança de cinco anos
assistindo ao filme do seu herói preferido.

Sorri, mas não é por vaidade. Sorri como a mãe
daquela criança de cinco anos que assiste ao filme feliz. Mais
contagiada pelo entusiasmo do que outra coisa. Enfim, fecha os olhos e,
com a mão direita tocando o cabo da morningstar, adormece, deixando o
quarto e as coisas do mundo temporariamente para trás.


Mais um anel. Parece feito de osso, com o desenho em
relevo de um crânio humano. Silêncio, escuridão e frio. O anel gira no
ar como em um comercial de joalharia. Um baú de madeira desgastada se
fecha prendendo o anel. Está numa parte da parede de uma sala
pequena... É dentro da...

- A capela! - Jasmim desperta. Sim, é na pequena
capela do cemitério que está esse anel de osso. Ela sabe exatamente
qual a parede e poderia até descrever o baú e estipular seu valor.

Ela se levanta e caminha até a sala com a morningstar
e um livro. Acende a luz e se senta no sofá. Caso tivesse um carro iria
para o cemitério agora mesmo. Mesmo sendo ainda três e meia da manhã.
Mas não tem carro, nem muito interesse em aprender a dirigir. Depois
que seus pais se foram em um acidente ficou esta, entre
outras feridas que Jasmim evita revelar. Nada de automóveis, e ela
segue lendo Dostoiévski até o nascer do dia.


Uma carta de baralho. A rainha de espada levemente
inclinada para a direita, com fundo azul escuro atrás da carta bege. É
a camisa de Jasmim, enquanto espera Anna já com o antiquário aberto, já
pronta como noutro dia. E ela não demora a chegar, vestida em tons
pastéis.

- Nem preciso perguntar, né Jasmim? Ou foi mais um sonho ou não me chamo Anna, pra estar aberto tão cedo...

Jasmim se levanta e pega a caixa de madeira.

- É, como eu pensei. Vai pra onde dessa vez?

- Pro cemitério.

- Ai, não brinca! Cuidado! Dizem que tem fantasma por
lá. Tem uma tia de uma amiga que morava lá perto e se mudou semana
passada porque não agüentava mais.

- Não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo.

- Verdade. Você sempre sabe, né? Queria ser assim...
Às vezes penso que minha vida é como uma canoa no mar e eu só vou indo
e indo...

- Está chorando?

- É... Meu irmão lá em casa. Liga não, vai! Estou te atrasando.

- Então já vou. Se recupere. - E vai em direção à porta.

- Até mais, Jasmim! Boa sorte! E cuidado!

Jasmim deixa a loja e Anna se debruça em lágrimas sobre o balcão.

- Eu vou matar aquele moleque idiota...

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