Jasmim #29 - O Estranho
Jasmim flutua até o chão. Não foi a armadura, veio nos braços de alguém. Durante o percurso, milhões de coisas passam na cabeça de Jasmim. Desde o julgamento se seria um inimigo até dúvidas mais específicas. O que estaria fazendo ali? Como voa? Em roupas pretas, ele chega ao chão trazendo a brava heroína. E o pensamento de Jasmim já cansou de pensar a seu respeito. No instante em que põe os pés no chão, apenas troca um olhar com aquele homem de cabelos e olhos pretos. Um misto de agradecimento e de sondagem, como quem lê as intenções do outro, o que o outro pretende fazer exatamente agora. Assim, tão logo coloca os pés no chão, Jasmim corre novamente para dentro da escola.
Aeze-Yo se levanta no fundo daquela sala do balcão. Metade dos seus ossos dói e a vista ainda procura um foco.
- Wi!!!
- Calma, rapaz. Você vai se juntar a ele logo, logo.
Aeze-Yo vê o irmão erguido pelo pescoço de uma das mãos da vampira, que o observa lentamente.
- Vocês são diferentes...
Barulhos de golpes interrompem a conversa. Aeze-Yo, ainda tonto mas já de pé, pode ver, tão surpreso quanto a vampira, Jasmim abrindo caminho entre os zumbis do outro lado do pátio.
- Vadia maldita! Por que não morre logo?! - a vampira joga o corpo inerte de Kao-Wi para o lado e caminha em direção a Jasmim. - Se queda não funciona, venha aqui pra eu arrancar sua cabeça fora!
O caminho se abre após a queda dos dois últimos zumbis e as duas ficam frente a frente de novo.
Aeze-Yo chega no balcão, mas nem tem mais forças para pulá-lo, então se debruça sobre ele e se deita para poder se levantar já do outro lado. Ali no balcão estão os revólveres de cano longo e as pequenas foices de Kao-Wi.
A imagem se forma aos poucos. A cabeça dói. Zumbis se aproximam. Por instinto, Kao-Wi saca um revólver estilo detetive de dentro do seu traje e dispara nos mortos andantes.
Ergue-se e se sente um pouco tonto. Sangue corre de sua cabeça pelo lado esquerdo.
Com olhos hostis e garras armadas, a vampira corre contra uma Jasmim séria e de morte nos olhos. Ela espera o momento certo e, quando a vampira está perto o suficiente, gira a morningstar de baixo para cima. A vampira ainda tenta colocar os braços na frente, mas é lançada para o alto, caindo atrás de Jasmim e deslizando ruidosamente no chão, como quem tenta parar de deslizar usando as garras.
- Sua mortal... Sua... O que é você!? Agrrrrr...
Ela se contorce de raiva, ali sozinha, enquanto um sorriso quase imperceptível brota no rosto de Jasmim. Lembranças de uma luta contra mulheres-planta de não muito tempo atrás.
A vampira olha com atenção Jasmim de pé diante dela. Kao-Wi e Aeze-Yo abraçados ao fundo, sem que se possa saber quem está apoiando quem. Os dois estão muito feridos. De repente, uma gargalhada da vampira, já de pé.
- Vadia, você é boa mesmo! Só tem um problema. Eu não morro, você sim. Você é mortal e isso me basta. Ainda te pego desprevinida, você vai ver. Ha ha ha ha ha!
E se vira e rapidamente parte para a saída. Pára de repente.
Um vulto está ali parado, impedindo a passagem. Um homem de preto, que ergue a bainha e a tira da espada.
- Você?!
Num movimento rápido, a cabeça da vampira rola no chão e ele pára a dez passos de Jasmim, com a espada estendida pelo final do movimento que acabou de executar.
Neste instante Jasmim sente o ferimento, mas faz de tudo para não demonstrar. E para não demonstrar também o frio que percorreu sua espinha ao vê-lo cortar o pescoço da vampira com tanta facilidade. Flashbacks de ferrolhos cortados passam em sua mente. "Será que é ele?" Todas as fraquezas do momento e seus medos Jasmim guarda com cuidado sob seu rosto frio. E encara de modo quase hostil aquele que a salvou há pouco e que acaba de matar a vampira, mas que bem pode ser também seu rival.
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