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Parte 6

Cantando, eles avistam os rochedos que preenchem essa região do continente. Apesar de o Sol estar já bem alto, a temperatura não é tão boa. Não é fria, mas chega perto. E daí? Os quatro têm a proteção térmica de suas armaduras!

- Tens certeza de que é aqui? - Cristian pergunta a Lob, enquanto os quatro perdem a propulsão antes de atingirem as pedras. 

- Não reconhece sua terra?

- Minha terra é Motron.

- Motron acabou.

- Eu sei! Geba, desculpa ter te deixado. O poder e a causa me cegaram. Não tinha o direito de esquecer o que fomos.

- Tudo bem.

Eles sobem as paredes que os separam do caminho. Caminho este que os levará a...

- Aonde vamos agora?

- Ver o nosso "amigo"?

- Ei! Parados!

- Quê?

- Sabia que chegávamos a Kairot.

- Calem-se!

Eles olham e vêem um homem vestido com camisas e calças cobrindo todos os membros. Ele tem um chapéu engraçado, de pano, na forma de um cone, e segura uma espada.

- Desarmem-se!

- Não estamos...

Ele aponta hostilmente a arma para Algio. Sua espada estava engatada na armadura, no seu lado esquerdo. O próprio guerreiro se esquecera de que ainda a tinha.

- Certo. - Ele tira e a joga no chão.

- Não vamos nos submeter...

- Quietos! - Ele apanha a espada com a outra mão. - Agora dêem dez passos naquela direção.

- E se eu não quiser?

O esquentado habitante mostra os dentes, segurando com força as duas espadas, numa expressão de raiva.

- Vamos, Cristian... - Algio o arrasta e os quatro cumprem a ordem.

- Tudo bem... Agora virem de costas. Nunca se esqueçam: vocês foram atacados por Uthokrolha, o terror do Sul!

- Mas que... - Geba se vira e vê o indivíduo correndo por entre as árvores. - Ei! Espera aí.

Ele parte em disparada. Os três ao perceberem que o do chapéu verde verde fugia, correm também.

Adentrando a floresta - uma floresta normal dessa vez, pelo menos uma floresta como conhecem -, Geba, Algio, Cristian e Lob perseguem o ladrão que se diz "o terror do Sul". Com velocidade apesar das armaduras, pois são incrivelmente leves. Em pouco tempo Geba e Lob cercam o fugitivo, correndo paralelamente.

- Entregue-se!

Ele responde, ainda a correr, erguendo as duas espadas.

Juntando as mãos enquanto corre, Geba faz uma pequena bola de fogo, que arremessa contra o vil logo em seguida. Com um grito, cai e é cercado pelos quatro. Já sem as armas, que foram prontamente tomadas por Algio, ele se vê sem saída.

- Vocês são loucos! Quase que aquele troço machuca alguém!

- Quem é você?

- Suas roupas brilham?!

- Não está em posição de fazer perguntas.

- Certo, meu nome é Uthokrolha.

- Quê?

- Por que tentou nos roubar?

- Ah, foi só brincadeira! Eu ia devolver depois!

Os quatro se olham.

- Ei! As armaduras não brilham mais!

- Brilham, seu... - Interrompendo, o golpista pára ao ser ameaçado por Geba. - Foi o que disse!

- Ele tem razão, ainda brilham. Mas o brilho quase acabou.

- Talvez esteja se estabilizando, chegando a um ponto definitivo.

- É, talvez...

- Ei! Vocês são vaga-lumes ou o quê?

- Cuidado com o que fala com os Guerreiros do Fogo!

- "Do Fogo"?! Ha!

- Estás nos ridicularizando?

- De modo algum! Do Fogo, então. Em que posso servir tão supremas autoridades?

- Sabe onde fica a cidade de Authu?

- Claro! Conheço a região toda. Sei também...

- Tudo bem, levante-se. Vai nos levar lá.

Ele se levanta e sacode os braços, como se não encontrasse palavras pra agradecer.

- Vamos logo, Utho.

- Meu nome é Uthokrolha, "Guerreiro do Fogo".

Cristian lhe mostra o punho, em ameaça.

- ...mas se não gostou, pode me chamar de Utho mesmo, "Guerreiro do Fogo".

- Se vamos ficar tanto tempo juntos, Utho, é bom começar a nos chamar pelo nome. O meu é Algio, este é Cristian e aqueles são Geba e Lob.

- Oh, é um imenso prazer.

- Agora... Que história era aquela de o "Terror do Sul"?

- Já disse que era uma piada.

- Você é um fracasso.

- Não sou não! Ainda serei um homem temido! Acontece que vocês são ligados com o fogo, e eu...

Enquanto prossegue o diálogo entre Algio e Utho, Lob chama Cristian pra lhe falar reservadamente.

- Podemos confiar nele?

- Claro, Lob! É um covarde! Se o mandássemos amarrar os próprios pés no topo daquela árvore, ele daria um jeito de fazê-lo!

- E se ele estiver nos levando a uma armadilha?

- Não está. Ele sabe que se fizer uma besteira dessas perde a cabeça. Pode deixar, eu me responsabilizo. Mas se quiser, podes ficar de olho.

Eles seguem pelos passos do estranho. Algio ainda conversa com ele e logo Cristian toma parte no diálogo. Eles falam sobre a existência de ambos e descobre-se que Utho vive sozinho na região. O Sol alcança seu ápice e eles param, pois precisam se alimentar. Lob se prontifica para a caça. A região é um tanto fria e eles não estão acostumados a ela, entretanto, conhecemos Lob: seus instintos o guiam com precisão. Ele encontra sua presa. Com a espada cedida por Algio, ele a abate, levando-a em seguida ao grupo, que já espera com a fogueira pronta. Eles rasgam a carne e começam o ritual de sempre.

- Você vive sozinho... Não tem medo do monstro? - Cristian pergunta. Instantaneamente, a face de Utho adquire uma expressão séria. Até o momento não haviam falado nisso. Era como se estivessem em um outro lugar, sem monstro. É como se a pergunta lhe trouxesse tudo aquilo que Utho tentava esconder de si mesmo.

- O monstro... Em todo lugar, todos só falam nele. Todos o temem e se juntam pra se proteger. Nunca dá certo...

- Se todos se juntam, por que não o fazes?

- É o que "ele" quer. Só pode atacar um lugar por noite. Quanto mais pessoas houver juntas, melhor para ele.

- Faz sentido...

- Além do mais, o monstro não deve se importar comigo. Não faz sentido perder uma noite de trabalho, se ele só ataca uma vez a cada semana. Deixar de matar muitos pra se importar com um inútil como eu...

- Já falou sobre isso com eles?

- Sobre o quê?

- Se separarem!

- Com quem? Com os authistas? Já falei sobre isso numa praça de Authu. Ninguém levou a sério.

Eles terminavam a refeição quando se calaram. Mesmo prontos pra partir, pouco depois, eles permaneceram sentados em círculo.

- Como ele é?

- Ninguém sabe. Ninguém nunca o viu. Quem viu, não sobreviveu. Achamos que deva ter dentes de gelo, chifres, garras e presas de gelo em um corpo de pedra. Deve ser horrível.

Eles param um pouco, pensativos, como se cada frase fosse muita informação para um só gole.

- E vocês? Quem são, afinal? Disseram-se os "Guerreiros do Fogo", mas isso significa muito pouco para mim.

- Somos os que matarão o monstro.

Mais uma vez, um ligeiro silêncio, e um tênue sorriso melancólico brota no rosto de Uthokrolha.

- Como vocês dizem que vão matar o monstro, se nem as lendas dizem que pode ser morto?

- Nós vamos matá-lo sim. O próprio Fogo nos escolheu.

- "O Fogo"? Vocês deviam procurar Uryef. Ele os faria acordar.

- Uryef nos procurou.

- Como?

- Ele nos conduziu até o arquipélago Cagi, onde encontramos estas armaduras.

- Ah, é claro! E vocês venceram um monte de criaturas esquisitas até encontrar as armaduras, não é? Aposto que estavam numa caverna!

- Ei, como adivinhou?

- Aagrr! - Utho se ergue e caminha com raiva na direção que seguiam antes.

- Cristian, ele não acredita.

- Sério? Ora...

Todos se levantam e vão atrás dele. Algio, o último, apaga a fogueira.

- Ele é mesmo confiável? - Geba pergunta a Cristian.

Claro, deixa comigo! - pouco depois, alcançando o guia, - Você já viu alguém fazer o que nós fizemos?

- O quê? Aquelas faíscas?! Aquilo é uma besteira que qualquer mago do fogo pode fazer.

- E as armaduras?

- Mais um truque barato.

- Muito bem, senhor Uthokrolha. - Cristian pões a mão em seu ombro, fazendo-o parar e se virar para ele. -, o que me diz disto?

Concentrando-se à exaustão, Cristian ergue o braço. Ao seu redor, partículas de fogo flutuam até se juntarem, formando um bastão de fogo, suspenso por Cristian. O bastão irradia luzes que banham esse lado da floresta. Utho, de tão assustado, cai no chão e permanece a contemplar o que vê. Cristian ergue seu bastão de fogo, que se comporta como uma coluna de fogo manejável, e o aponta para o impressionado espectador. Após um segundo, o tal bastão explode em pequenas bolas de fogo que, como neve, descem suavemente até o chão.

- O que dizes agora?

- Tudo bem, tudo bem, não discuto mais com vocês. - Ele retoma o caminho. Nota-se claramente que a cena o espantou, porém, não tanto quanto Cristian esperava.

- Ele ainda não acredita em nós... - Algio comenta, em voz baixa, com Cristian. Após refletir um pouco, este se dirige a Utho.

- Por quê?

Uthokrolha encara Cristian e lê em seus olhos o restante da pergunta. Sua falta de esperanças é um punhal e ele sabe disso. Após um tempo de meditação, ele ergue a voz ao alcance dos quatro heróis.

- Quanto poder é necessário para apagar o Sol?

- Que queres dizer?

- Vocês estão muito confiantes quando desconhecem seu inimigo. Julgam que o poder que acumularam é bastante, mas quem o avaliou?

- Não entendo...

Eles se calam por alguns instantes, pausando o diálogo que ocorria entre Cristian e Utho.

- Você queria ser um de nós, não é? - Cristian finalmente pergunta.

- Não... Vocês são as pessoas certas... Eu não conseguiria vencer...

Uthokrolha se vira e continua a caminhada, seguido pelos quatro guerreiros. Ninguém fala nada após o incidente. Pelo menos dessa vez há o barulho da floresta: os animais, o vento balançando as folhas... Numa viagem tranqüila eles são pegos pela noite. Se viram para cuidar do jantar e do acampamento. Reúnem-se, pois, quando tudo está pronto, ao redor de uma fogueira. Não podia ser muito diferente...

Também o jantar segue sob um estranho silêncio, no que diz respeito aos cinco. Um gelo que já vem do dia e ainda não passara.

- Ora, vamos... Por que ninguém fala nada? - Cristian tenta quebrar o silêncio.

- Por que não descobre sozinho, Cristian?

- Por que a hostilidade? Quer dizer então, Algio, que ficaste calado esse tempo todo para enfim me agredir?

- Desculpa.

- Tudo bem, mas acho que estamos muito sombrios...

- A culpa é minha, e eu que tenho que me desculpar.

Eles atentam para as palavras de Uthokrolha.

- Eu não sei nem o que digo... Me sinto tão culpado! Não devia ter dito aquilo...

- Você disse aquilo pra se defender... Eu havia falado do monstro. Antes disso, você parecia tão...

- É... Mas eu que tentava me enganar que o monstro não existia.

- Tudo bem, tudo bem. - Algio entra na conversa, ele que já começava a se divertir com a polêmica. - Eu sou o culpado e acaba a discussão.

Os dois começam a rir e em pouco tempo tudo parece ter voltado ao normal ou, pelo menos, a tristeza coletiva acaba. O debate virara uma brincadeira e terminaram achando por bem dividirem a culpa entre eles. Enfim, havia sido esse caso daqueles em que não há um culpado. Fôra um incidente e, por assim ser, não tinha causador voluntário, a não ser que se procurasse um bode espiatório. Pelo menos tudo parecia resolvido e eles jantam.

- Vocês podiam dizer exatamente o que aconteceu.

- Claro! A gente chegou lá no canto que a gente estava - onde você nos achou...

- Cristian, não é melhor contar do início?

- É... Verdade... Tudo bem, conto desde o começo. Eu nasci em Degoz mas, aos oito consegui convencer os meus pais a me deixarem me tornar um guerreiro...

- Você chegou a Motron com oito anos?

- Não! Cheguei com nove! Nunca contei?

- Não...

- Contou, mas faz tempo.

- Fui o primeiro a chegar... Aí conheci o mestre Fuolha e fiquei morando em sua casa por uns tempos. Lembro que no dia seguinte...

- Tá, tá... Pode pular essa parte.

- Você não pediu pra eu contar do começo?

- Do começo do que importa, não a sua história.

- O que querem que eu conte, afinal?

- Nada! Só quero que cale a boca pra eu ver se consigo dormir!

- Irritado ele, não?

- É, "Otho", este é o Geba de sempre... Mas me permita continuar o que estava dizendo... Nós sempre treinávamos a arte da guerra...

- Com esse mestre Fuolha?

- Não... Infelizmente ele está morto.

- Desculpe-me. Prossiga.

- Nós sempre treinávamos até que uma noite voltamos a Motron e encontramos tudo destruído. Todos haviam sido assassinados pelo monstro.

- Motron? Onde fica?

- Agora, em lugar nenhum. A cidade havia acabado e decidimos partir dali. Não sabíamos ainda se procurávamos o monstro pra nos vingar ou iríamos a uma outra cidade. Nesse caminho incerto encontramos Uryef.

- Sério? Ninguém o conhecia antes? Como o reconheceram?

- Como não somos bestas, não acreditamos prontamente que ele seria o maior mago de todos os tempos. Exigimos uma prova. Ele fez uma magnífica magia de fogo e então o seguimos.

A essa altura eles já haviam jantado. É importante saber que todo esse diálogo, tão extenso, não ocorreu de um só fôlego, mas enquanto comiam. Espero que o leitor entenda que particionar o diálogo abusivamente apenas para relatar coisas do tipo "Geba morde a carne", "Cristian joga o osso fora" e "Utho morde sem muita força e resolve assar mais seu rango" seria tão supérfluo e banal quanto repetitivo e irritante.

De qualquer forma, a essa altura eles já estavam satisfeitos. Enquanto Geba tentava dormir num canto, noutro Algio e Lob viam o céu, não por ser o céu, mas por ser a única forma de olharem o infinito de onde estavam. No meio, perto da fogueira, somente Cristian e Utho conversavam.

Ao contrário do que ocorria há pouco, já se podia notar em Uthokrolha uma forte admiração pelos "Guerreiros do Fogo". O que eles fizeram diante de seus olhos, as armaduras tão brilhantes e as histórias lhe transmitiam um "quê" de fantástico. Cada vez mais evidente ficava aquilo que Cristian dissera: "Você queria ser um de nós". Ele deixaria tudo o que significava sua vida para ter o poder capaz de vencer o monstro, mas como não havia meios de efetuar essa troca, restara-lhe rebaixá-los para convencer a si mesmo de que sua situação era melhor, e agora apenas admirar e ouvir as narrações de Cristian.

Algio e Lob vêem no infinito coisas diferentes. Enquanto Lob se preocupa, o outro recorda os tempos antes da investida do monstro em Motron.

Algio vê as estrelas no céu escuro quando ouve uma voz. "Pensando?" Ele vira um pouco a cabeça para ver quem falou. Não que precisasse ver Keuda para saber que era ela. Sua voz lhe dissera isso. Ele precisava ver seu rosto sorridente sob a luz do luar. Estão na aldeia, em Motron, entre duas cabanas durante o jantar.

- É...

Responde com palavras e sorriso. "Posso?"

- Claro!

Ela se deita ao seu lado e os dois olham as estrelas. "As estrelas... Droole disse que eram anjos a nos espiar, mas papai dizia que eram homens, grandes homens, que continuavam a mostrar seu brilho... O que acha, Algio?"

- Bem, senhorita Keuda... Esses anjos poderiam ter sido grandes homens tornados em anjos...

- Está sonhando... - Utho diz ao ver Algio deitado mais adiante, após ouví-lo falar. - Ele sempre fala enquanto dorme?

- Não. Agora está lembrando uma noite alguns dias antes do monstro atacar nossa vila Motron.

- Quem é Keuda?

- A filha do nosso saudoso mestre Fuolha. Ela infelizmente morreu na vila, junto com os outros.

- Namorada dele?

- Se não, quase. Essa noite que ele lembra foi uma em que ela chegou e se deitou perto dele. Urupsy, o chefe de Motron encontrou os dois, eles estavam se beijando. Quando procurei Algio, o chefe contou e pediu pra deixá-lo em paz por aquela noite...

- Então foi por isso que ele se juntou a vocês? Para vingar...

- Como?! Não! Nós treinávamos juntos há muito tempo! Você está fazendo perguntas demais. Vamos dormir.

- Tá bem.

Eles se recolhem às suas camas improvisadas. Lob ergue a cabeça para ver se tudo está bem. Depois dorme também, mas um sono leve que o faz se erguer pelo menos dez vezes durante a noite. Tudo passa bem e, enfim, amanhece.

Lob é o primeiro a se levantar. Despertando pela enésima vez, vê que o Sol não tardará a vir. Ergue-se do seu canto e sai, para não muito longe, colher algumas frutas. O orvalho lhes dá água: basta-lhes recolhê-lo das folhas. Com precisão o guerreiro seleciona as frutas mais ricas em líquidos. Ao voltar, encontra os quatro já de pé. Eles se reúnem e fazem a refeição matinal.

Recompostas as forças para a imensa jornada que têm à frente, partem. O dia amanhece frio e eles prevêem chuva para mais tarde. Mas não há o que temerem: são os Guerreiros do Fogo.

Enquanto Cristian e Utho seguem pela frente, continuando a conversa de ontem sobre a história do quarteto, Lob ao seu lado presta atenção respondendo apenas o que é questionado. Algio e Geba, mais atrás, permanecem calados. Desde o início Algio tem apresentado esse comportamento - se não sempre, ao menos muitas vezes. Quanto a Geba, além de não gostar muito de falar, não se sentiria bem interferindo nos pensamentos do colega. Mesmo assim, seguiram caminho.

Parando para uma rápida refeição, eles continuaram e só perto do entardecer seu humor começa a melhorar. Eles começaram a se sentir menos deprimidos, até o anoitecer.

Era, sem sombra de dúvidas, uma longa viagem. Utho sabia exatamente o que isso significava, em proporções precisas. Embora não soubesse exatamente o que tinham a percorrer, os Guerreiros do Fogo faziam idéia da distância e já esperavam que tal viagem demorasse. Era a segunda noite, ainda longe no caminho de Authu, a cidade ascendente, querida por toda Kairot, a "terra dos filhos da terra", o lar da magia.

Após caminhadas, caçadas, caminhadas, um pouco de chuva, discussões, caminhadas e por aí vai, alguns dias passados, Uthokrolha se sente quase como parte do grupo de guerreiros, que estão com as estranhas armaduras agora brancas.

O ânimo está inabalável e eles discutem, conversam, riem, gargalham. Algio com sua conhecida destreza agora transportada para a palavra. Cristian tagarela, Geba falando vez ou outra, porém quase sempre grosso e implicante. Fazendo discussões que quase sempre terminam com a intervenção de Lob. Nosso amigo Utho, o mais novo personagem da trama, fala com um pouco de receio e evasão, entretanto mostrando cada vez mais uma personalidade desejosa de ser o centro das atenções. Tanto que agora, tantos dias passados desde sua inclusão no grupo, tornou-se ele um autêntico contador de histórias, e entenda por autêntico o que quiser...

- Como?! Você disse "verdes e orelhudos"?

- Verdes e orelhudos! Foi o que disse!

- Certo, eles invadiram Authu...

- Planejavam invadir, creio ter dito. Mas graças a mim, seus planos foram estragados.

- Certo, continue... Você se vestiu de que mesmo?

- De moita! E ninguém me viu. Pude ver toda a reunião do exército deles e depois avisei a Sucrão.

- O arqueiro?

- Não! O discípulo de Uryef! O arqueiro se chamava Aphoiflaply. Então nós nos reunimos e derrotamos todos eles.

Algio se aproxima discretamente de Lob.

- Acredita nisso? - fala, em discreto tom. Pergunta a que Lob responde dando de ombros e com um sorriso típico. Algo como "Sei lá! Isso é importante!?"

- Utho, não está tarde?

- Não, Algio. Podemos seguir... Estamos bem perto.

- A gente devia mesmo parar! - Geba exclama.

- Que acha, Lob? - interroga Cristian.

- Sigamos.

- Há, há! Sábia decisão, amigo. Sigamos, então.

- Ah, Utho, você disse que fez tanta coisa que...

- Pssss, olhem.

"...deve ser famoso..." A frase de Cristian é truncada pela visão. Do morro, ainda cheio de árvores, eles vêem um tapete colorido se estender sobre o chão, com casas, praças... Luzes já irradiam das janelas, visto que é noite. As luzes provavelmente são lampiões, ou lanternas. A visão os impressiona. Não haviam visto nenhuma cidade muito maior que a vila Motron. A visão de uma das maiores cidades de Kairot enche seus olhos e os paralisa. Só após alguns segundos eles notam que Utho espera adiante.

- Vamos! Authu nos espera!


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