Cordel do Software Livre
Caro amigo que acompanha
Essas linhas que ora escrevo
Sobre um assunto importante
Que até pode causar medo
Mas não é tão complicado
Você vai ficar espantado
Não ter entendido mais cedo
Aqui falo de uma luta
Da mais justa que se viu
Por democratização
Nesse espaço tão hostil
Que é dos computadores
Falo dos novos valores
Que estão tomando o Brasil
Apresento um movimento
De uma luta deste instante
Que mexe com muita gente
Por isso não se espante
Se noutro canto encontrar
Alguém a disso falar
Mal e de modo alarmante
Faço apelo à Inteligência
Se encontrar quem diga: "é não!"
Não tome nem um, nem outro
Por verdadeira versão
Leia os dois, mas com cautela
Que a verdade pura e bela
Surgirá à sua visão
Pois eu trago nesses versos
Quem buscar pode encontrar
A verdade, puros fatos
Que podem se sustentar
Já é dito em muitos cantos
Mas como já falei tanto
Vamos logo começar
Computador e internet
Vivem no nosso Presente
Mesmo sendo tão ligados
Cada um é diferente
Mas toda coisa criada
Não serviria pra nada
Se não fosse para gente
Como uma calculadora
Um bocado mais sabida
Nasceu o computador
Pra fazer conta e medida
Mas foi se modernizando
Seu poder acrescentando
E o "programa" ganhou vida
O computador não pensa
Precisa alguém dizer
O "programa" é o passo-a-passo
Diz como é pra fazer
Cada passo do roteiro
O computador, ligeiro
Faz logo acontecer
Cada programa é escrito
Por um sábio escritor
Que escreve o passo-a-passo
Como quem está a compor
E escreve totalmente
Como só ele entende
Esse é o programador
O programa assim escrito
Nessa forma diferente
Não é logo percebido
Pela máquina da gente
Um tal de "compilador"
Traduz pro computador
Numa versão que ele entende
E é assim que um programa
Tem duas formas sagradas
Uma pro programador
Outra que à máquina agrada
Sempre que alguém solicita
É a primeira que se edita
E a segunda é recriada
Isso parece confuso
Mas não é confuso não!
É como ter um projeto
Pra ter a realização
É como a gente precisa
Tela pra pintar camisa
Como planta e construção
A primeira forma tida
"Código-fonte" se chama
E o programador entende
Essa forma do programa
Mas só é aproveitável
Só no modo "executável"
Computador não reclama
Para o programador
O código é usado
Para o computador
O programa é transformado
O "executável" é feito
Traduzindo, e desse jeito
Temos o segundo estado
E por muito tempo foi
Que todo programador
Toda vez que precisava
De algo que outro já criou
Esse outro prontamente
Passava logo pra frente
O programa salvador
O código aproveitado
Poupava trabalho e tempo
O amigo aproveitava
E se estava falho e lento
O programa original
Era mudado, e afinal
Funcionava como o vento
E o programador primeiro
Como forma de "Obrigado!"
Recebia essa versão
Corrigida do outro lado
Graças ao que foi cedido
Com a mudança de um amigo
Dois programas, melhorados
Veja, amigo leitor
Como tudo funcionava
Por que ter que criar de novo
Se isso feito já estava?
Em uma grande amizade
Viveu tal comunidade
Enquanto a Vida deixava
O mundo programador
Nessa vida se seguia
Mas tudo se complicou
Quando em um certo dia
Um programador brigão
Quis arrumar confusão
"Copiar não mais podia"
Esse tal programador
Uma empresa havia criado
Queria vender caixinhas
Com um programa lacrado
Cada caixa adorável
Apenas o executável
Trazia ali guardado
E o pior é que a caixinha
Não dava nem permissão
De instalar em outro canto
O programa em questão
Mesmo pagando a quantia
A caixinha só servia
Para uma instalação
Assim veja, meu amigo
Cada programa comprado
Não traz código consigo
Só o que será executado
Não dá mais para alterar
Nem mexer, nem estudar
Esse programa comprado
Veja bem que, além disso
Apresenta restrição
O programa não permite
Uma outra instalação
"Se há outro computador,
Outra caixa, por favor"
É o que eles lhe dirão
Desse jeito que tem sido
Nesse mundo digital
Os programas mais famosos
Funcionam tal e qual
Agora lhe foi mostrado
São os "programas fechados"
Como Windows, Word ou Draw
Outra coisa que acontece
Com os programas fechados
É que quem for fazer outro
Terá todo o retrabalho
Haja quinhentos já feitos
Fará de novo, que jeito?
Pois o código é negado
E quem já tem algo pronto
Mais e mais se fortalece
Quem começa hoje sem nada
Não tem chance e já padece
Com poucos fortes então
Há bem pouca inovação
Só o monopólio cresce
Foi desse jeito que um mundo
Tão saudável e integrado
Foi trocado por um outro
Egoísta e isolado
Que lucra um absurdo
E esmaga quase tudo
Que se oponha a seu reinado
Todos estávamos tristes
Com nosso triste Presente
Um mundo de egoísmo
Era esperado, somente
Um mundo de ferro e açoite
Mas depois da fria noite
O Sol nasceu novamente
Contra esse mundo cruel
Que tudo quer acabar
Pra dinheiro a qualquer preço
Fazer tudo pra ganhar
Apareceu boa alma
Era o Richard Stallman
Que vinha tudo mudar
Aos poucos foi se formando
Uma grande multidão
De grandes programadores
Para ao mundo dar lição
E aos mais céticos mostrar
Que vale mais cooperar
Que a dura competição
Começaram a escrever
Programas de um novo jeito
E aquele código-fonte
De novo é nosso direito
Permitindo qualquer uso
E toda forma de estudo
Tudo que queira ser feito
Mais e mais programadores
Essa idéia apoiaram
E o resultado disso
É maior do que esperavam
Tantos programas perfeitos
São por tanta gente feitos
De todo canto ajudaram
Programas feitos assim
Que nos deixam os mudar
Se chamam Softwares Livres
Mas há algo a acrescentar
Eles deixam ter mudança
Mas exigem por herança
Tais direitos repassar
Assim se eu uso um programa
Que me é interessante
Posso copiar pra você
Eles deixam, não se espante!
Eu posso modificar
E você, se desejar.
Podemos passar adiante
Pra nossa felicidade,
Há tanto programa assim
Que nem dá pra ver direito
Onde é o começo e o fim
Da lista de Softwares Livres
E há muita gente que vive
Com Software Livre sim
É Firefox, é Linux
É OpenOffice, é Apache
Pra programação, pra rede
Pra o que se procure, ache
Pra desenho, escritório
Para jogos, relatório
Pro que for, há um que se encaixe
E você, se não conhece
Não sabe o que tá perdendo
A chance de viver livre
Ouça o que estou lhe dizendo
Software Livre é forte
No Brasil, já é um Norte
Basta olhar, já estamos vendo
Maior evento do mundo
Desse tema é no Brasil
NASA, MEC, Banrisul
Caixa, Banco do Brasil
Em Sergipe, em João Pessoa
Em Arapiraca e POA
Software Livre roda a mil
E se a imprensa não fala
É porque tem propaganda
De quem não quer ver o mundo
Ir para onde livre anda
E nada contra a corrente
No Brasil, infelizmente
Na mídia o dinheiro manda
Se você quer saber mais
Disso tudo que hoje eu teço
Procure na Internet
Veja agora uns endereços
softwarelivre.org
br-linux.org
E a atenção agradeço
--Cárlisson Galdino
Nota: versão em PDF disponível em http://bardo.castelodotempo.com/cordeldosoftwarelivre
Comentários
Parabénssss, Cárlisson! Isso ficou muito bom!!!
Posso distribuir isso com meus alunos numa versão impressa?!
Abraços e crie mais!
Claro!
Claro que sim! À vontade! É Creative Commons - Atribuição - Compartilhamento pela mesma licença! :-)
E tem a versão em PDF também: Cordel do Software Livre (Livro) (vê Anexo)
Parabéns
Muito boa a idéia! Parabéns. Muito bem escrito e bastante original. Muito obrigado por essa colaboração a cultura do software livre e a cultura do nordeste. :)
Clap.. Clap... Clap...
Fenomenalmente Excelente. É uma satisfação ser Alagoano e poder dizer que os filhos da nossa terra ainda produz arte como essa. Parabéns, Cárlisson.
Olá Carlisson, Vc está de
Olá Carlisson,
Vc está de parabéns! Esse trabahlo tah muito bem feito, até ouvi em minha mente repentistas recitando ele :P
as fotos tiradas pela caravana de Sergipe do ENSL/ENSOL estão no:
www.matutofeio.com.br
Software Livre é pura cultura
Parabéns pela iniciativa.
Conheçam também o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS (www.dnocs.gov.br) que em seus quase 100 anos de existência participa intensamente do movimento de Software Livre.
Por um Brasil mais justo e democrático e pela transparência no serviço público.
Parabéns
Cara, gostei muito!! Parabéns espero ler outros!!Anônimo
Muito lega, cara! Poderia
Muito lega, cara!
Poderia ser apresentado no próximo FISL.
Muito bom!
Muito bom! Achei a iniciativa muito original e o trabalho de otima qualidade.
Parabens!
PQP
Tranqilo Cárlisson?
Cara, cacete!
Adorei ler o Cordel, sempre gostei de cordéis e adorei ler o seu cordel.
Parabéns amigo.
FALOW !!
Em Sergipe, em João Pessoa
Em Arapiraca e POA
Software Livre roda a mil
Rima de pé quebrado
Que rimas que o Carlisson fez!
Ele rimou até inglês,
Para mostrar todos os macetes
e destronar o Tio Gates.
Valeu Carlisson, me desculpe as rimas de pé-quebrado que fiz, pois as suas estão ótimas!!!
Obrigado!
Domínio de sítio: ~ R$ 40 / ano
Hospedagem de site: >= R$ 10 / mês
Conexão rápida: >=R$ 50
Receber comentário do Julio Neves em verso: não tem preço. :-)
Brigadão, Julio! É uma honra te ter por aqui. E quem diria... Falando de mim, você também rimou inglês! ;-)
Aproveito para agradecer os comentários de todos. (colocar um comentário com um "obrigado" para cada um de vocês seria merecido, mas ficaria repetitivo pra quem lesse) Valeu, gente!
[]s
parabéns e sugestão amiga
primeiro parabéns pela iniciativa e criatividade.
moro em brasília e trabalho na área de tecnologia do banco do brasil com colaborações na área de inclusão digital.
repassei o cordel do software livre a dois amigos (poeta, ator, radialista e pedagogo) para apreciação. eles também gostaram.
tomo a liberdade de enviar-lhe algumas sugestões que eles fizeram. com todo respeito e consideração, ok?
---------------------------------
Meu caro amigo Gilson como um estudioso de Literatura de Cordel diria que o trabalho está bom, porém poderia ser mais conciso, pelos parâmetros um cordel pode ser em: sextilhas ou setessílabas(foi o caso do bom trabalho do poeta) se ele ainda não imprimiu eu sujeriria que ele reduzisse um pouco para 26 ou no máximo trinta estrofes(setessílabas) é mais ou menos uma norma ou padrão, desculpe-me é apenas uma sugestão para que não canse o ouvinte e/ou leitor... no mais PARABÉNS para o POETA Galdino.
Segue um decassílabo de um famoso poeta cearense! Zé Zilmar de Horizonte:
A VIDA DO POETA!
O POETA É PORTADOR,
DE GRANDES MÁGOAS DA VIDA,
SEU PEITO É UMA FERIDA,
QUE NUNCA SE ACABA A DOR,
SOFRE POR CAUSA DO AMOR,
MENOSPREZO E SENTIMENTO;
DESGOSTO DE CASAMENTO,
INGRATIDÃO DE COLEGA,
TODO POETA CARREGA
UM FARDO DE SOFRIMENTO!
Um forte abraço do
Chico Benvas e Bira
Número de estrofes
Longe de mim querer título de "especialista em cordel", estou muito longe disso. Mas em uma pequena amostragem que tenho comigo, percebo que cordéis pernambucanos em geral têm mesmo poucos versos, mas isso não ocorre com os paraibanos. (ressalto que me refiro à amostragem que tenho comigo e não tenho condições de dizer que é regra geral).
Ademais, tentei nivelar por baixo, tentando fazer com que quem pouco entende de computador possa compreender a nossa luta pelo Software Livre. Para isso, é preciso ser bem didático e muitas vezes repetitivo, para reforçar conceitos. Talvez daí venha a impressão de que dava para "economizar versos".
Peço, portanto, vossa permissão para achar que o cordel está de bom tamanho em minha opinião. Pois acho que com menos comprometeria a história (não para nós, que já a conhecemos, mas para quem nunca ouviu falar disso). Mas obrigado pela opinião.
[]s
ois!!!
ois!!!
Software Livre
Encontrei por acaso seu Cordel do Software Livre. Atualmente faço um Trabalho de Conclusão de Curso jornalístico acerca do tema, dum ponto de vista político. Tentarei, inclusive, usar o cordel no meu trabalho. Será bastante útil. Achei o cordel muito rico quanto à temática, bastante esclarecedor, principalmente quanto ao cenário que desencadeia o surgimento da idéia do software livre. Se me permite, gostaria de fazer uma observação. Creio que seria justo usar o termo GNU/Linux e não Linux, tendo em vista toda a origem do software livre devida a Richard Stallman e toda a comunidade que contribui para o Projeto GNU, inclusive com as mediações ideológicas e filosóficas, muito antes de Linus Torvalds iniciar o desenvolvimento do kernel Linux. Acho que para o papel de disseminação do software livre, é preciso "contar a história direito". Acredito que devamos voltar o olhar para o surgimento da concepção de software livre, separando-a do Open Source. Para o Stallman, são movimentos distintos que, no entanto, "unem-se" quanto ao modelo de desenvolvimento. Não são antagônicos, mas separam-se do ponto de vista ideológico. Pensando por esse ângulo, Firefox não é software livre, é software de código aberto; e pro pensamento advindo do Stallman, as diferenças são grandes e devem ser mencionadas, ainda que no Brasil não se dê muita importância a essa questão.
Talvez vc não concorde comigo. Gostaria muito de ouvir a sua idéia. Procurei seu e-mail na rede para um contato mais individual, mas não encontrei. Estou te adicionando no Orkut. Talvez possamos bater um papo. Entre em contato, se puder.
Um abraço!
Jota Rodrigo
É Linux mesmo neste caso
Linux é citado em um único instante e não há equívoco na citação necessariamente, já que Linux existe enquanto Linux, independente do GNU.
Linux é o projeto de kernel tipo Unix iniciado por Linus Torvalds. O erro seria chamar o Sistema Operacional completo de Linux ao invés de GNU/Linux (que eu acho suficiente chamar de "Gnú Linux", não chamo de "Gnú Barra Linux" como St. Ignúcius quer). Alguém realmente pode ler e pensar no SO, mas escrevi pensando no projeto.
Não descartei ainda a possibilidade de fazer um Cordel do GNU/Linux ou algo do tipo...
Olá, Cárlisson. Agradeço
Olá, Cárlisson. Agradeço pela atenção e pelo comentário.
Ah, sim. Acho até interessante citar o Linux enquanto projeto. Mas, no trecho em que há o termo "Linux" no cordel, ele parece referir-se, a mim, pelo contexto, mais ao SO, e não ao projeto, o que contribui, infortunadamente, para que as pessoas desconheçam a história da concepção do SL, que é o Stallman com o Projeto GNU.
"E há muita gente que vive
Com Software Livre sim
É Firefox, é Linux
(...)
Pro que for, há um que se encaixe".
Há "um" software que se encaixe. Tudo bem. O software, do qual vc fala, pode ser o conjunto kernel Linux, e não o SO. Mas, se assim for, eu concordo com a posição do Stallman de que o kernel nada é sem o restante do SO. E, no caso, o Linux incorporou-se ao Projeto GNU, e não o contrário. Por isso, não concordo com a afirmação de que o Linux exista "independente do GNU". Ao contrário, o Linux só existe em função do GNU. E por aí, acho que é devida a menção do GNU no cordel. Por isso GNU/LInux. O "barra" Linux submete o Linux ao GNU. Não está incorreto do ponto de vista histórico; talvez não muito usual do ponto de vista prático. Enfim. Acho bacana que vc até mencione, e muito bem, a origem msm da "boa alma" do Stallman e da concepção do SL. Mas acho que falta mencionar sim o GNU. Essa é a origem, é a história, e não concordo que uma divergência de opinião ou ideologia suplante fatores preponderantemente importantes. Afinal de contas, o título do cordel abraça o termo "Software Livre"... Poderia se chamar Open Source ou algo assim, então. Nada contra o Open Source, muito pelo contrário. Só não acho bacana fundir muito as coisas, para que elas não percam a essência original (é, no Brasil, não parece importante a diferenciação). Enfim. Poxa, eu provavelmente usarei o Cordel do Software Livre no meu trabalho, mas gostaria sim de substituir "Linux" por "GNU/Linux", sem comprometer nada em todo o contexto, ainda que vc se refira aos projetos e nao aos SOs. Acho q fica mais claro. Sei que parece uma posição um tanto chata, radical, mas acho que é só precisão antes de mais nada. Quanto a fazer outro cordel sobre GNU/Linux, acho interessante. Mas o cordel aqui em questão já abrange isso, apesar de não ter, infelizmente a meu ver, o termo GNU mencionado.
Um abraço.
Jota Rodrigo
Submeter um novo comentário